Cadeia de mandantes do caso Marielle envolve atores com funções públicas, diz ministro
- Fonte: Huffpost
- 25 de jul. de 2018
- 3 min de leitura

Dois meses depois de afirmar que as investigações sobre a morte da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista dela, Anderson Gomes, estavam perto de um desfecho, o ministro da Segurança, Raul Jungmann, disse, nesta quarta-feira (25) que o caso não tem prazo para chegar ao fim.
O entrave, segundo ele, é que envolve atores que ocupam funções públicas.
Jungmann ressalta que a investigação prossegue, mas diz que é complexa e tem, no ponto de vista dos mandantes, reflexo do que é o Rio de Janeiro. "O Rio vive uma metástase em termos de que o crime organizado, quando ele controla os territórios, 1,1 milhão pessoas, ele começa a ter projeção na política, no Estado, nos órgãos de controle, nas polícias. Tudo isso se reflete no crime da Marielle. A cadeia que envolve os mandantes é um reflexo da crise que vive o Rio de Janeiro porque envolve atores que têm funções públicas - em certa medida até onde se pode chegar aqui e dizer alguma coisa - na comunicação com as milícias, mas eu acredito que o trabalho que está sendo desenvolvido é sério", disse.
Embora tenha comentado, o ministro afirmou que falar sobre um crime em investigação implica em restrições. Explicou, no entanto, que há uma probabilidade de que as duas pessoas que foram presas na terça-feira (24) tenham ligação com a execução da crime. Para ele, no entanto, também é preciso focar nos mandantes.
"Essa cadeia que envolve os mandantes é ampla e complexa. (...) Há indícios fortes de participação de milícias. Milícia está muito associada a facção, está muito associada à tráfico, eles têm alianças. Infelizmente, agentes do próprio estado também. Rio de Janeiro é um caso complexo. Por isso, eu dizia que o caso de Marielle reflete exatamente a crise que você tem de segurança no Rio de Janeiro. Não é por acaso que dos 7 membros do Tribunal de Contas do Estado, 6 estão na cadeia. E não por acaso, os 3 últimos governadores do Rio de Janeiro também estão presos e até recentemente os 3 últimos presidentes da Assembleia do Rio de Janeiro também estavam presos, o que demonstra que o crime de Marielle não pode ser dissociado da situação que vive o Rio de Janeiro, mas ele será desvendado, será esclarecido. Não tem prazo para desvendar isso, mas acho que estamos em bom caminho."
Questionado se há um temor de que o crime organizado possa influenciar nas eleições, o ministro foi enfático:
O crime organizado já influencia nas eleições.Ministro da Segurança, Raul Jungmann
E seguiu:
"O crime organizado tem suas bancadas. Dentro do nosso presidencialismo de coalizão, o que é o presidencialismo de coalizão? É o seguinte: o Executivo se elege e o partido dele, como acontece em todos os níveis, tem 20%, 10%, 15% dos votos, precisa ter maioria. E é feita a distribuição de cargos. Essa distribuição de cargos atende aqueles que têm representação no Parlamento, seja municipal, estadual ou federal. Ora, se o crime organizado tem representante, ele vai participar diretamente dessa distribuição de cargos".
Para o ministro, esse cenário "é o coração das trevas". "Você permitir a eleição de um representante do crime, da milícia, e ele poder indicar nomes, efetivamente, ligado aos seus interesses para órgão do Estado. E isso tem que ser de fato evitado. Evidentemente, nós lidamos com isso não só no Rio de Janeiro, mas lidamos com isso não apenas lá."
Marielle, presente!
Marielle e seu motorista Anderson Gomes foram atingidos por um total de 13 tiros em Estácio, na região central do Rio, em 14 de março deste ano. Negra, da periferia e lésbica, a vereadora, que era uma das vozes de denúncia sobre violência policial, se tornou um símbolo de luta pelos direitos humanos.
Quatro meses após o assassinato ainda não se sabe quem matou Marielle. Logo após o crime, um artigo da Human Rights Watch alertou que a ousadia para assassinar uma pessoa com tanta visibilidade pressupunha que não haveria consequências na Justiça.
"A impunidade no caso das execuções extrajudiciais é particularmente devastadora, não apenas pelo sofrimento das famílias das vítimas", ressaltava a HRW.
Comentarios